O volume da voz
Anelê Volpe, 2024
Desde muito cedo, e durante muito tempo, falava alto, sempre.
É possível que precisasse desse subterfúgio para ser ouvida em casa. Era a caçula numa casa de 8 filhos. Se não gritasse, jamais seria ouvida. Acho até que não funcionou ali também. Fato é que cresci tentando me impor pelo volume e pelo tom da minha voz.
Ficou marcado em mim o dia em que uma professora do ginásio chamou minha atenção, dizendo que eu parecia histérica. Entendi na hora que a palavra era um tanto ofensiva, mas não sabia exatamente o que significava. Quando comentei em casa, acharam a atitude da professora desproporcional, e a minha, imprópria. De fato, não chegava a tanto, mas eu devia ter exagerado mesmo.
Assim fui eu, até recentemente, tão segura quanto ao que dizia, que tinha que ser ouvida em alto e bom tom. Se não fosse pela razão da minha fala, que fosse pelo volume da minha voz.
Muitas vezes, tão logo falava, imediatamente percebia a inconveniência, mas não é possível voltar atrás nessas horas. Meus sentimentos pioravam à medida que tomava consciência da irrelevância do que tinha dito e da elegância do falar baixo de meus interlocutores.
Demorou mais do que devia, mas finalmente compreendi que o volume da voz não afere credibilidade ao que é dito. Ainda que sussurros tampouco garantem verdades, ao menos não ofendem os ouvidos dos outros.
Sigo perseguindo a meta de ficar mais em silêncio, ouvir sempre com atenção e, quando falar, falar baixo, exatamente como ensinamos as crianças desde cedo.
Afinal, a verdade está mais próxima do silêncio do que do grito.